Crack

(Continuação da reportagem “Entre a rua, a calçada e o meio-fio”, Revista-Laboratório Eu Tenho Profissão, 2011)

 Com o valor da pedra de crack variando de R$ 5 a R$ 10, tudo o que é arrecadado nas ruas pelos viciados tem destino certo: boca de fumo. Lidar com o vício e os riscos que o consumo da droga acarreta compõe o dever do educador de base. Mais do que assistir de perto as consequências que as drogas causam ao usuário, a equipe intervém como pode.

Em visita a um dos “mocós” da cidade, Aldair Dasseri, 36, educador de base desde 2002, tenta alertar os moradores sobre os riscos que correm. “Estamos em uma época propícia para a tuberculose, o correto seria cada um ficar em um cômodo da casa. Limparem tudo e cada um ter sua garrafa de pinga, sua latinha [usada como cachimbo para o consumo de crack].”

A casa em que estavam apresentava uma placa de “vende-se” logo na entrada. O mato alto e o silêncio não denunciavam a presença de gente morando ali. Mas o consumo da droga naquele espaço já era apontado tanto pelo educador de base quanto pelo motorista Claudevino Battalini, 49, há um ano na função. Juntamente com Aldair Dasseri, formam a segunda equipe de abordagem da cidade. Roupas, papelão, latas e umidade revelavam a algazarra patrocinada pela droga. Acompanhando a desordem do local, a equipe apontava também o mau cheiro: fezes por toda parte. “Quando faz efeito [do crack], a pessoa fica alucinada, faz tudo aí e dorme do lado”, diz Battalini. A janela é aberta logo em seguida, surpreendendo a abordagem, que tem passagem livre para entrar. Dentro do imóvel a situação é ainda pior, justificando a preocupação da abordagem com os três jovens que atualmente vivem no local.

Os conselhos se estendem até onde possam surtir algum efeito. Ao abordar um grupo de usuários no centro da cidade, Dasseri logo identifica uma grávida. “Você está fazendo acompanhamento certinho?”, pergunta. “Tô de sete meses já, fiz o pré natal, tudo em dia”, responde a abordada, que apresenta várias tatuagens pelo corpo – nomes, corações e “vida loka” em diversas partes. “Sei que parar de usar droga você não vai, mas dá uma maneirada, pelo menos agora. Por causa da criança”, é o que consegue dizer.

O efeito da pedra consumida pelo grupo é visível até para os leigos no assunto. Agitados e em estado de alerta, com os olhos vidrados. A busca pela sensação de prazer é cada vez mais constante e requer o consumo mais frequente e maior por parte do usuário. Mais que perder a total noção de higiene, o vício geralmente é fatal.