Jogado aos teus pés, eu sou mesmo exagerado!

Arquivo pessoal

Como hoje é Dia dos Namorados, independente da validação comercial que a data tem, vou publicar aqui uma história que me marcou este ano. Recentemente foi publicado no jornal O Diário um caderno especial para o dia 12, reunindo uma matéria mais linda que a outra. Não teve jeito: toda a equipe de jornalistas responsáveis pelo material se envolveram nas histórias apuradas. A cada nova descoberta, novo suspiro. O tema cativou a todos. Além de divertido, foi gratificante ver depois quantos leitores também se envolveram com as histórias e se emocionaram com a gente.

Confesso que uma delas, do casal Gabriel Vecchi e Daniel Simas, mexeu mais comigo por sair da heteronormatividade que ainda abrange a data – tanto nas matérias que eu via quanto nas publicidades que estampam casais heterossexuais demonstrando afeto. Achei a história dos dois marcante pela forma como se conheceram, se identificaram e lutaram para permanecerem juntos. Gostaria hoje de compartilhar com vocês o depoimento do Daniel quando entrei em contato para fazermos a entrevista.

O início
Olhei a foto dele no Facebook e deu um estalo de querer conhecer aquela pessoa. Sou muito curioso de conhecer as pessoas, e pensei: “quero conhecer ele”. Puxei papo na maior cara de pau, ele ainda falou “seu abusado”. Conversamos muito até que a gente se encontrou no Rock In Rio [2011]. Ficamos uns três meses para nos conhecermos, até ficarmos juntos. Eu sou muito reticente quanto a relacionamento à distância e o Gabriel é mais novo que eu. Ficava com o pé atrás. Será que vou levar fé nisso?
Vim para cá conhecer os pais dele, conhecemos a família um do outro. Quando foi no carnaval a gente se tocou que estávamos fazendo isso [caminhando para um relacionamento] e a gente queria mais. “A gente está namorando, né?”. Eu não gosto de ficar expondo a minha vida dessa forma. Tenho vários amigos de colégio, faculdade, grupos de pessoas… Tem amigos meus que nem sabiam que eu era gay ou estava namorando. Procuro evitar a exposição e fomos sempre reservados.
O Gabriel gosta de ser exagerado. Eu disse que só ia acreditar no sentimento dele se depois de um ano nada tivesse mudado. Acabou que quando eu vim pra cá com um ano de namoro e ele disse “continuo te amando e achando você o máximo”, só então aceitei o que ele sentia por mim. A gente não pode morar separado, porque não dá certo. Vim pra cá e no primeiro final de semana ele me fez esse pedido [de casamento]. E eu fiquei “ah só vai ficar em Maringá mesmo” com o vídeo [que hoje tem quase 200 mil visualizações]. O mais engraçado que o feedback foi positivo e o receio que eu tive a minha vida inteira foi errado, as pessoas me tratavam muito bem.
Eu brinco com ele: gosto de tudo marcante na minha vida. O pedido tinha que ser algo bonito e eu estava pensando em fazer a mesma coisa, um trailler da nossa história e tentar passar no cinema. Ele pensou a mesma coisa, então ele pensou no flashmob.

O pedido de casamento
O Gabriel me falou que era aniversário de uma menina do escritório que ele trabalha. É claro que eu ia, né? Precisava de uma vida social. Mas eu estava de mudança, queria descansar, na correria. O Gabriel ficou me apressando e fui do jeito que estava, tinha acabado de sair do banho, cabelo molhado. Quando cheguei a família inteira do Gabriel estava lá… Pensei que a menina deveria ser muito querida. Vi que em uma mesa tinha pessoas que eu conhecia, pensei “que coincidência”. Quando começou uma movimentação estranha, o Gabriel falou ‘olha lá o pessoal dançando’, e eu pensando ‘ah o cara deve estar bêbado’. Nunca tinha visto um flashmob tão de perto, fiquei reparando nos detalhes e não reparei na música [Exagerado, do Cazuza]… nisso surgiram as primas do Gabriel… pensei “as primas? Deve ser algo do grupo de dança delas”. Quando olhei para trás para falar isso, o Gabriel não estava mais sentado. “Por que o Gabriel está dançando isso?”. Aquele olhar duro, movimento tensos, ele não sabe dançar direito… “Por que ele sabe essa coreografia? Ele sabe e eu não sei?”. A primeira vez que todo mundo apontou pra mim eu me toquei “é pra mim isso gente! Meu cabelo tá molhado, tá horroroso, as pessoas estão me olhando! Vão me ver!”. Eu não sabia onde botar a minha mão, e então o Gabriel chama meus amigos… Eu tenho a fama de descobrir tudo. Nem desconfiei, mesmo descobrindo o recibo da aliança. Fiquei em pé, tremia… Foi emocionante, começou a chover na hora. Quando o pessoal entrou no bar eu fiquei uns 10 minutos em êxtase. E eu estava rindo muito, porque o Gabriel não tem jeito para dançar, a família dele chorando… E eu rindo achando divertido! Pensando: “as pessoas vão achar que eu sou insensível”.

Internet
Sempre pensei que fosse encontrar alguém, encontramos várias pessoas que nos moldam até o ponto que a gente está hoje. Eu acho que tudo acontece no seu tempo certo, como vai ser eu não penso… Sei que uma hora acontece, basta estar aberto para isso e querer. Não vejo a internet como um peso. No mundo em que a gente vive não temos liberdade de demonstrar nosso carinho e usamos a internet como um refúgio. Se não fosse a internet eu nunca teria coragem de conhecer uma boate gay ou conhecer outras pessoas que pensam que nem eu. Sou de uma geração que se não fosse a internet não teria feito metade das coisas que fiz.

Bom… Que todos um dia encontrem alguém que faça com que o lado mais exagerado possa se sobressair. Feliz Dia dos Namorados! 🙂

Já quero-quero voltar pra lá, tchê!

Ansiosa estava mesmo era para por os pés pela primeira vez em 21 anos de existência nos pampas gaúchos. Pela janela do ônibus, depois de mais de 15 horas de estrada, já fiquei sem palavras com a paisagem encantadora. Nada que meu bom e velho Paraná não reserve também aos aventureiros, as terras por aqui são lindas. Mas já as percorri tantas vezes que nem reparo mais na beleza que elas podem proporcionar – um erro, claro. Felizmente as paisagens gaúchas da minha janela me fizeram lembrar que também preciso valorizar as belezas das terras de gente que tem orgulho de dizer que é pé vermelho. Que puxa o “r” com um orgulho abobado, mas que, no meu caso, se encanta facilmente com os sotaques desse mundo que é nosso. É a nossa casa, os sotaques também são meus. Seus. Pode se servir que a variedade é grande!

amigo secreto

E eis que descubro que se tivesse de escolher um lugar para morar em todo esse Brasil, ah! Esse lugar seria o sulzão, não trocaria por nada. Gente simpática, querida, que me acolheu como se eu fosse de casa – e lá me senti assim, como se nunca tivesse é deixado de ser gaúcha. Posso, com licença, usar o “tchê” ao final da frase? Porque assim me considero já, com todos esses direitos verbais. Se falar de um jeito mais cantado que o paranaense e menos cantado que o catarinense, puxar uns “guris” e “gurias”, exclamar “bah” para creditar minhas emoções, tomar meu mate e pegar um violão para ser feliz vocês não vão se importar, vão?

Fui para Santa Cruz do Sul (RS), uma cidadezinha pra lá de charmosa, com 120 mil habitantes e distante pouco mais de 150 km de Porto Alegre. Se conheci os pontos turísticos da cidade? Vamos reformular as coisas, capitão! Conheci mesmo foram seus moradores mais que encantadores, e isso valeu qualquer foto de turista em frente à catedral ou no meio do túnel de árvores verdes. Claro que todas essas imagens são encantadoras, uma rápida pesquisa no Google e já sei descrever a beleza dessas construções. Mas especial mesmo são as memórias e os rostos que dificilmente serão apagados desta gaúcha bastarda aqui. Me digam vocês, menos sentimentais que eu, como não se apaixonar por gente tão… apaixonante? Essa seria a palavra? O adjetivo? A característica? Se alguém conseguir se expressar melhor, fique à vontade.

Logo eu que sempre acreditei que sabia usar bem as palavras. Que me considerava até íntima das letras. Logo eu, que prefiro abrir meu coração pela escrita a pronunciar frases feitas… Não consigo mais exemplificar o que eu senti durante esses três dias. Se me perguntassem, então, o que sentes hoje, Ana? Diria de todo coração que sinto é muito pesar de ter deixado a terrinha que me fez tão bem e voltado para casa. Que no final das contas, nosso lar é o Sul. E é nele que quero permanecer, é nele que quero continuar morando. Se me permitirem mais, são nesses três Estados maravilhosos que quero continuar conhecendo aqueles que fizeram, fazem e farão a diferença na minha vã passagem aqui nesse mundo. E que essas mesmas pessoas me permitam, de alguma forma, fazer a diferença nesse trajeto.

Depois de um fim de semana com tantas portas abertas, como fechar a minha morada para tanta coisa boa? Porque se quiserem se aprochegar aqui no interior do Paraná, podem vir, não se acanhem. Dizer que são bem-vindos, depois dessa declaração toda, já é completamente desnecessário, né? Mas já aviso que a vontade é grande de atravessar toda essa estrada de novo. Que venham mais 30 horas de ônibus. Disseram-me hoje que na idade que tenho, ainda aguento e me empolgo com tamanho esforço. Esforço? Para mim, motivo a mais para já abrir um sorriso largo.

Afirmaram que não podia se voltar de um Intercom apaixonada. Que era bobagem, amor de Intercom vingar? Coisa besta. Mas errei, assumo e não nego: voltei ainda mais apaixonada por essa gente e, principalmente, pelo Rio Grande do Sul. Quando posso voltar?