Com uma flor nas mãos

Quantas vezes saímos de casa com pressa e esquecemos, por vezes, de observar nosso próprio habitat? Não nos atentamos ao sol queimando a pele aos poucos, ansiando por uma olhadela e um pensamento de que o dia está lindo. O vento acaricia o rosto, emaranha os cabelos, e reclamamos. A chuva cai amenizando o calor e refrescando a rotina. E, ainda assim, ousamos reclamar.

Frequentar aquele ambiente escuro e abafado não era estranho, uma vez que tinha estado ali incontáveis vezes no ano anterior para uma outra reportagem, à época da faculdade. Por que voltaria? O chão avermelhado carecia de um bom enceramento, e o pó deveria ser arremessado porta afora. Quem eram aquelas pessoas? Uns tentavam cochilar nos dois sofás dispostos na sala, outros se reuniam na mesa de centro para modelar com argila, como se brincassem de criar a própria vida. Como um sopro no barro.

Um ventilador e duas janelas abertas davam conta da temperatura quente. As pessoas me fitavam timidamente, alguns até engrossavam a voz. Não oferecer ameaça àquelas pessoas constantemente ameaçadas pelo destino era quase um desafio. E eu estava munida apenas com uma caneta azul e um bloco de papel de pão. Ainda assim, soava ameaçador revelar tal realidade. Afirmar uma condição e compartilhar aquelas histórias.

Tem certes situações em que os problemas se tornam diminutos. Alguém aí já passou por isso? Eu só conseguia pensar que voltaria para casa naquele dia. E eles? Acho que o desafio maior da maioria das pessoas é olhá-los nos olhos como se fossem iguais. E ali enxergar um ser humano. Foi fácil perguntar das famílias, da rotina, do que estavam fazendo na argila. O temor era se eu ousasse perguntar o que faziam com a própria vida. Eu não tinha esse direito de tirar-lhes o que já nem tinham mais. Dignidade.

O horário da oficina chegara ao fim, era finalzinho de tarde de um dia na semana. Um dia qualquer. Cada um tinha de voltar para casa, o lar que nem tinham. Sob o teto da rua, à espreita das calçadas e a tal da liberdade que o mundo lá fora diz oferecer. Ele sussurra aos ouvidos prometendo impossibilidades, seduz, mas abandona. Observava atenta às pessoas saindo, pouco tímidas agora. Alguns arriscavam um adeus com as palmas das mãos ainda opacas pelo manuseio da argila. Eu retribuía com um aceno de cabeça.

Um deles ficou por último. Não disse uma palavra durante o tempo em que permanecemos ali, mas antes de partir, deixou um embrulho sobre a mesa. “É para você”, ainda arriscou, antes de debandar para fora da sala. Mal tive tempo de agradecer, espero que tenha ouvido. O embrulho era feito de guardanapos de papel branco e escondia, quanta surpresa, uma flor! Uma rosa contornada pela mão de alguém que não conhecia, com as marcas digitais do sofrimento impressas ali na argila ainda úmida. Uma rosa que não precisaria de água para viver, mas ainda assim exibia a beleza rústica de uma flor modelada. Era o que todos ali precisavam, não? Remodelar a própria existência.

Naquele dia voltei para a casa, tive minhas refeições, tinha onde dormir. E tinha também uma rosa que ganhei de um morador de rua enfeitando a estante da sala. Um gesto singelo capaz de quebrar qualquer preconceito. Mas não conseguia ostentar um sorriso nos lábios. Nós sabemos por quê.

Crônica originalmente publicada no caderno D+ do jornal O Diário

“Sem ler fica praticamente impossível escrever algo que possa realmente ser relevante”

Banda de rock foi formada em 1997 no Rio de Janeiro

Banda de rock foi formada em 1997 no Rio de Janeiro

O ano é 1997. Ao som característico da internet discada, dois músicos se encontrariam em uma sala de bate-papo e dali surgiria o primeiro contato para a formação do Detonautas (detonadores + internautas), banda que tomou forma no Rio de Janeiro. De lá pra cá, muitas águas rolaram. Os então meninos, naquele tempo, cresceram. As letras foram tomando outro contorno, mais maduro, e a essência do rock nacional que motivou e deu origem à banda prevaleceu.

Manter a própria identidade e acreditar na própria ideologia são características recorrentes na história dos músicos. Certa vez, Luis Guilherme Brunetta Fontenelle de Araújo, conhecido como Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas Roque Clube, disse que eles eram “a banda desconhecida mais conhecida do Brasil”. Não estava errado.

Houve um tempo em que o Detonautas serviu de trilha sonora para novela global, teve o auge da carreira no início dos anos 2000 e então a mídia passou a ter papel secundário na trajetória do grupo. A divulgação “boca a boca”, usando a internet como recurso principal, parece ter funcionado. Mesmo “longe” dos holofotes midiáticos, os roqueiros continuaram a crescer e a conquistar o público com as letras que chamam a atenção pelo conteúdo e pela experimentação a cada novo disco – o quinto CD está enfornado por ora, com previsão de lançamento de forma independente no ano que vem.

Não é a primeira vez que o sexteto, formado por Cléston (DJ e percussão), Fábio Brasil (bateria), Philippe (guitarra e vocal), Renato Rocha (guitarra), Tchello (baixo) e Tico Santa Cruz (vocal), vem a Maringá – o último show foi em 2006 e eles voltaram a se apresentar no dia 23 de dezembro de 2012. Mas a ligação por essas bandas vem de antes, da década de 1990, quando a mãe de Santa Cruz morava por aqui. “Minha mãe é professora de hipismo e rodou o Brasil inteiro dando aulas, criando cavalos. Viveu em Londrina por dois anos e depois foi pra Maringá. Nessa época estive por aí, mas eu era bem novo”, revela.

Na entrevista, o vocalista polêmico por falar o que pensa e engajado conta sobre a carreira, o atual cenário do rock brasileiro, influências e dá um show à parte sobre interpretação da própria realidade. Confira na íntegra a entrevista que foi originalmente publicada no caderno D+ do jornal O Diário:

O quinto álbum que vocês vêm trabalhando é feito de forma independente, o que representa liberdade autoral para alguns músicos. Isso vai significar qual direcionamento para a banda?

Nunca tivemos problemas de conteúdo por conta das gravadoras. Elas não tinham esse poder de interferência em nossas escolhas musicais ou de concepção de letras e referências. O que influenciavam era na escolha das músicas que seriam trabalhadas. Apenas isso. De forma que a liberdade que temos hoje é apenas a de não precisar sucumbir às necessidades comerciais de lançamentos e com isso podemos trabalhar com mais tempo e mais tranquilidade. Nosso direcionamento é objetivo, não temos intermediários entre nós e os fãs, logo conseguimos um diálogo menos burocrático. Nos falta talvez o poder financeiro de investimento em Marketing de acordo com os padrões ainda existentes nos veículos de comunicação de massa, porém nos sobra maneiras alternativas de disseminar nossa música.

O que contribuiu para que o DRC se tornasse 100% independente?

A falência do método utilizado pelas gravadoras. Nosso segmento não vende discos. Os jovens sempre optam por baixar as músicas e gravadoras vendem discos. Se não batem os números, não tem como manter um artista nesse sistema. Então, em total compreensão de ambas as partes, foi decidido o fim de nosso ciclo neste caminho e o início de uma nova abordagem por parte da banda. Que vem dando muito certo.

O som produzido em cada álbum reflete o estado de espírito dos integrantes no momento de concepção do material. O novo disco vai refletir qual fase?

Sem dúvida. Música é estado de espírito, mas é também maturidade, conhecimento, aprendizado, experiência e nós já não temos a mesma idade que tínhamos quando fizemos os primeiros discos, logo a forma de ver a vida mudou por alguns prismas e eu como compositor entrei numa jornada de auto-conhecimento e muitas buscas literárias para procurar uma linguagem que pudesse refletir tudo isso e oferecer letras com as quais as pessoas pudessem se identificar e que não fossem rasas. Os músicos também foram em suas buscas pessoais por novas técnicas, novos timbres, novas fórmulas. Então teremos um disco com bastante variedade musical, mas em todas as músicas as pessoas dirão: “É do Detonautas”.

Quais foram as influências que você encontrou na literatura?

Tenho uma biblioteca muito grande na minha casa que construí ao longo dos últimos tempos. Reli todos os clássicos que eram obrigatórios na escola: Machado de Assis, Guimarães Rosa, Manuel Antônio de Almeida, Drummond, entre outros autores nacionais. Gosto muito do Saramago. É um autor que me influencia muito. Leio de tudo, desde livros de filosofia até literatura de auto-ajuda. Romance policial, livros de sociologia, antropologia, Ciências políticas fizeram parte da minha formação, pois cursei Ciências Sociais na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Leio muito mais do que escuto música. Então tudo isso se reflete no meu vocabulário e na maneira de colocar e expressar em palavras os sentimentos e as ideias. Sem ler fica praticamente e impossível escrever algo que possa realmente ser relevante.

Vocês utilizam as redes sociais para se aproximar dos fãs, mas esse canal também permite que as críticas, às vezes gratuitas, ocorram. Tem alguma situação que vocês levam em consideração alguma crítica? Qual?

Consideramos argumentos. Críticas por críticas qualquer um pode fazer e isso é um exercício de liberdade. Argumentos são críticas embasadas por conhecimento ao que se critica e essas nós consideramos.

O Detonautas surgiu em uma época de efervescência do rock nacional. Acha que falta identidade nos atuais músicos que querem fazer carreira no gênero musical?

O que parece é que a busca dos músicos da geração após a nossa é meramente o sucesso comercial, sem qualquer comprometimento com o que está oferecendo. Mas é a geração deles, a forma deles se expressarem, a maneira que encontraram para serem reconhecidos por outros jovens que pensam da mesma maneira. Nós temos um público diferente, mais seletivo, que não aceita qualquer bobagem. Então tentamos corresponder às expectativas desse nosso público e quem desperta para o Detonautas consegue observar isso claramente. O que falta na música brasileira atual é um pouco mais de espaço para a diversidade que ela abrange. A monocultura que domina o que a massa escuta é o principal elemento de dominação apenas dos interesses financeiros. Quem decide o que o povo vai ouvir são os anunciantes e não mais alguém que se identifica com a arte.

O rock sempre foi questionador e reflexivo, caracterizado pela rebeldia e pela inconformidade diante das situações. Hoje em dia vemos artistas novatos totalmente comerciais. Isso acaba com a credibilidade musical de um País que tem grandes nomes nesse cenário?

Não acaba porque a música boa é atemporal e mesmo que eles por algum período sejam referência para alguns jovens, quando as pessoas fazem contato com a música de qualidade e estando preparadas para isso vão se rendendo e passando adiante. Não dá para cobrar de um adolescente atual de 12 ou 13 anos que ele se comporte como um adolescente da mesma idade que vivia um contexto diferente nos anos 80, 90. Por que eram outras referências, outras oportunidades, outro comportamento. As gerações atuais estão expostas a muita informação ao mesmo tempo. É tudo muito veloz e para eles o natural é consumir o mais rápido que puderem sem se aprofundar tanto. Não estou generalizando, mas essa é a realidade. Logo, não há comprometimento com questões que precisam de um pouco mais de tempo para serem maturadas, isso só vem com o tempo. Por isso ainda fazemos muito sucesso.

O Detonautas começou nos primórdios do universo digital. Se adaptar à internet e às possibilidades de, por exemplo, oferecer download gratuito das músicas, favoreceu de que forma a trajetória de vocês?

Absolutamente TUDO que temos é devido a internet. Mas principalmente por conseguimos manipular a ferramenta a nosso favor e conhecer os caminhos através da nossa curiosidade e do poder de adaptação rápida que temos as linguagens dispostas. Então não posso dizer que a internet tenha prejudicado em qualquer momento a banda. Trabalhamos com música e nosso interesse é que ela chegue aos ouvidos e cérebros das pessoas, e a internet possibilita isso de maneira formidável. De modo que a questão comercial nós buscamos em outros caminhos.

Em uma entrevista concedida depois do show que vocês fizeram em Teresina, no começo do ano passado, você disse que o Detonautas é “a banda desconhecida mais conhecida do Brasil”. A banda continua em consequência da vontade de fazer o trabalho de vocês, dos fãs já conquistados desde 1997 e dos trabalhos desenvolvidos desde então. Atingir um público novo hoje é mais complicado sem o auxílio da mídia?

A mídia dita o que será consumido para a maioria. Isso é assim desde que inventaram este sistema de divulgação de informações para vender conceitos, ideias, comportamentos e etc. Quem estiver fora desse contexto terá de criar seus próprios meios, é o que nós fazemos. Contudo, o crescimento do número de fãs do Detonautas é enorme e isso vem sendo feito de uma maneira que marketing e mídia nenhuma consegue fazer melhor, que é o boca a boca. Uma pessoa passa para a outra que passa para a outra e assim por diante. Tendo isso a nosso favor, o que vier é bônus.

As músicas disponibilizadas no site trazem um mix de estilos diversificados à pegada já tradicional do Detonautas. Como é lidar com a inovação mantendo a essência da banda?

Se detendo a sua verdade e ao que lhe move para continuar fazendo o que faz. Se há verdade é você. Se for para agradar ou atingir um mercado para vender e tão somente isso, então perde-se a essência para buscar apenas o comércio. Arte é primeiro a essência e depois o interesse por ela gera o comércio, se for ao contrário não é arte é puramente comércio.

Abrir shows importantes como do Red Hot Chili Peppers, Silverchair, tocar no Japão duas vezes e se apresentar no Rock in Rio foram passos significativos para a carreira de vocês e de quebra a realização de vários sonhos. Quais são os sonhos/objetivos para o futuro?

Continuar fazendo o que nós mais gostamos, estar nos grandes festivais brasileiros, queremos muito rodar a Europa e voltar para o Japão, mas principalmente manter nosso trabalho forte aqui no Brasil.

Quando foi que vocês passaram a apresentar músicas próprias com cover nas apresentações e o que fez adotarem esse formato?

Sempre fizemos homenagens em nossos shows. Mas percebemos que uma geração inteira estava passando batida sem conhecer ícones importantes do Rock nacional. Em alguns lugares a gente cantava músicas menos famosas de Titãs, Barão Vermelho, Raul, Legião e percebia que uma parte dos garotos e garotas não conheciam. Então decidimos dedicar uma parte do show para apresentar a quem não conhece o Rock nacional e manter a chama acesa e as boas lembranças de quem viveu os bons tempos.

Mais do mesmo em Glee

Glee mostrou poucas surpresas até então

Glee mostrou poucas surpresas até então

Bom, não é segredo para ninguém que convive comigo que eu não posso chegar perto de um seriado que já quero engolir todos os episódios. Ao longo desse tempo, desde que comecei a me aventurar nesse mundo dos downloads e de séries, existem as que eu continuei acompanhando. Durante esse ano, tento mostrar o meu ponto de vista frente aos direcionamentos que os episódios tomaram de alguns dos meus seriados favoritos. Julguem-me. Ou me ajudem a julgar.

Glee

“Seriado de adolescente mimimi”, para o raio que o parta. Gosto de musicais e acho que Glee faz um bom trabalho musicalmente falando. Gosto das adaptações e das coreografias apresentadas ao longo de cada episódio e, confessem, o resgate musical de Glee é encantador – e por vezes as versões apresentadas por eles são melhores que a própria música original. Este ano em especial não gostei muito de todos os rumos que os personagens tomaram – os novos personagens soam como “tapa buracos” e muito “mais do mesmo” que já estávamos acostumados a ver nas últimas três temporadas. Não precisamos de uma nova Quinn Febray (Dianna Agron), uma nova Rachel Berry (Lea Michele) substituída por Marley (Melissa Benoist), “renovada” com o drama “garota-pobre-que-quer-ser-popular” (se inspirou em quê? Camp Rock?). Não precisamos de um novo Noah Puckerman (Mark Salling) e não precisamos de um pseudo-romance aguado entre Brittany Pierce (Heather Morris) e Sam Evans (Chord Overstreet).

O QUE DIABOS VOCÊS, CRIADORES, ESTÃO FAZENDO COM A SÉRIE? É difícil compreender que esses personagens que nós acompanhamos até agora são únicos e queridos pelo público justamente pelo histórico que carregam? Repetir a dose é, visivelmente, um grave erro e tem direcionado a atual temporada para o buraco – salvo as cenas onde os personagens antigos apareceram para salvar o episódio. Os velhos renovam os novos. Já viram isso? Pois é.

Até agora não entendi o que (não) aconteceu com a Tina (Jenna Ushkowitz) e o Mike Chang (Harry Shum). Blaine (Darren Criss) e Kurt (Chris Colfer), já podem voltar o namoro. Ficou a impressão que eram tantos personagens novos ocupando o lugar dos veteranos, que estes tiveram de ser expurgados sem a menor cerimônia – “puf”. Temos mais Burt Hummel (Mike O’Malley) passando por uma fase difícil, temos mais um episódio “Se-o-Artie-andasse”, temos Sue voltando a quebrar tudo. Até os Warblers ficaram… Ficaram.

Melissa Benoist como MarleyZzzZzZzZzzZzzzz

Melissa Benoist como MarleyZzzZzZzZzzZzzzz

Novas aquisições

Acompanhei o reality show The Glee Project, e confesso que não gostava do Alex Newell, que interpreta nossa graciosa Unique. Grata surpresa tê-lo na trama, dando o frescor necessário que a série precisava. Ele inova e acrescenta com uma história diferente e abre portas para uma discussão de gêneros por vezes deixadas debaixo do tapete, principalmente durante a adolescência, fase que acarreta tantas dúvidas e descobertas. Alex jogou o vencedor da primeira temporada do reality, Samuel Larsen, no chinelo. Abrilhantou o set, demonstrou que a arrogância que tinha na convivência com os outros participantes do Project ao menos foi deixada de lado na hora de realmente atuar e fazer acontecer.

Is all about emotion

Enquanto isso, Ryan Murphy e os demais criadores de Glee não sabem o que fazer com Larsen, que cuja presença quando percebida é completamente desnecessária. Frases soltas e pouca exploração de talento. A história de menino-hippie-de-Deus não convence, não polemiza e mal dá lado para novas discussões a respeito. Xôxô, Samuel.

Salve Ryder!

Já vi gente criticando nosso Ryder, que seria o “new Finn” na história. Não acho que ele faça o papel de um Finn Hudson (Cory Monteith) mais novo. Já na segunda temporada de Glee Project o talento para a atuação era notável no jovem Blake Jenner – sempre achei que para se trabalhar em um seriado como Glee o ator deveria primeiro saber ATUAR, para então trabalhar a voz. “Ah, mas eu sou um vira-latas, me encaixo em Glee”, vários participantes bradavam. Não adianta ser underdog se não há ta-len-to. Simples assim. Cada aparição de Ryder me coloca um sorriso no rosto, é uma delícia (no melhor sentido possível) vê-lo atuando. A história do menino que sofre com dislexia é uma realidade, e gosto dessa questão de abordar problemáticas atuais na ficção. Chama a atenção para situações sérias, mas Glee torna tudo muito superficial. Incentivo ou prevenção à bulimia? Intenção boa, enredo mixuruca.

Observação em tempo: um salve para o Brody (Dean Geyer), Sarah Jessica Parker e Kate Hudson.

As páginas que não li – os episódios que não vi

Certo dia conversando com minha prima Isadora Casavechia sobre o seriado, dei a seguinte descrição da quarta temporada: “Quando assisto aos episódios, tenho a impressão de que Glee é um livro, eu li todas as edições e fico esperando que a adaptação seja fiel à obra, porque sempre parece que falta algo”. Um dos melhores episódios por enquanto foi o 7º, “Dynamics Duets” (e como sou uma fã por tabela de Grease, o 6º, “Glease”, foi uma homenagem que salvam-se as canções, não o episódio). Falta uma condução decente. Faltam histórias amarradas. Falta justificativa. Falta coerência. E sobra descaso com os que acompanham a série desde a primeira temporada.

Rachel

Vale a pena ouvir de novo:

Quando o seriado volta? 24 de janeiro
Transmissão: Fox
Duração de cada episódio: 43 minutos (aprox.)
Episódios por temporada: 22
Até agora: 76

Crítica: Nada é mais poderoso que o espírito humano

Lucas (Tom Holland) e Maria (Naomi Watts) se reencontram após o impacto das duas ondas gigantescas

Lucas (Tom Holland) e Maria (Naomi Watts) se reencontram após o impacto das duas ondas gigantescas

O clima de tensão já predomina no início do longa-metragem. Já se sabe que uma tragédia está por vir, e acompanhar a felicidade momentânea dos personagens principais empolgados com uma viagem internacional ao sudeste da Ásia, em um local totalmente paradisíaco, é torturante. O que vai ser? A filmagem realista da tragédia convence e atormenta. Ponto para o diretor espanhol Juan Antonio Bayona, que soube conduzir o drama sem cair na mesmice.

Já dizem por aí que “O Impossível” leva a faixa de melhor drama do ano. Há de se concordar que a densidade dramática é intensa e sem brechas para retomar o fôlego após as cenas mais agonizantes. Mesmo que focado na história real de uma única família de cinco integrantes, as intervenções de personagens atingidos pelas ondas no decorrer do filme abrangem a trajetória como um todo, mostrando um pouco mais da catástrofe de 2004 ocasionada por duas gigantescas ondas.

Novamente, ponto positivo também para a escolha da trilha sonora assinada por Fernando Velázquez. Os cortes secos e o silêncio vêm em momento adequado, quase pautado na respiração de quem se deixar envolver pela trama. Os sons conduzidos por violinos e violoncelos enfatizam as cenas, dando os contornos necessários para o gênero cinematográfico. Vale também mencionar os ruídos de água, objetos perfurantes enquanto os corpos são arrastados pelas ondas. Tudo contribui para a sensação de realismo, e é possível sentir-se debaixo d’água no decorrer do vídeo.

Lucas brincava com a família ao redor da piscina quando a primeira onda surgiu

Lucas brincava com a família ao redor da piscina quando a primeira onda surgiu

Não é preciso nem afirmar que, ao final do filme, pelo menos na pré-estreia do Cine Araújo, no Catuaí Shopping Maringá, era de grande facilidade trombar com pessoas donas de olhos avermelhados e marejados. Algumas palavras-chave cabem para descrever o longa-metragem: destruição; dor; proteção; valores; força; família; solidariedade e, principalmente, esperança. Não se sabe até que ponto a história de baseia no real, mas o acolhimento e espírito de humanidade dos que sofreram com a tragédia faz renascer uma ponta de crença no ser humano. Favorável em tempos natalinos. Cenas como a que Maria, interpretada brilhantemente por Naomi Watts,  incentiva ao filho Lucas a salvarem o pequeno Daniel comove.

E o filme, como um todo, vai fundo na busca por atingir, a qualquer custo, a sensibilidade do espectador. Seja no enredo, na escolha corajosa de se arriscar em um projeto desse porte ou a cada detalhe que chame a atenção e faça refletir. É visceral. A utilização de planos abertos, mostrando toda a catástrofe, casa bem com a história central daquela família. A maquiagem dispensa a preocupação demasiadamente estética e é muito bem feita. Os closes nos machucados e perfurações não exageram na exposição e ainda assim dão arrepios.

É possível dimensionar a tragédia e ainda se indignar. O enfoque é em uma família que, apesar de todas as dificuldades que passaram diante da destruição, sobreviveu. Mas o pensamento fixa na quantidade de desencontros e mortes que nortearam uma realidade, que não há, porém, enredo cinematográfico algum que mensure. Pelo “simples” fato de que a tragédia existiu, e para os sobreviventes certamente o acontecimento não tinha como objetivo basear um filme e arrecadar bilheteria com os fatos.

Filme: O Impossível
Gênero: Drama
Duração: 1h47min
Classificação: 14 anos

Em cartaz a partir de hoje no Brasil

*Crítica originalmente publicada no caderno D+ do jornal O Diário do Norte do Paraná

Assista ao trailer: