10 anos, até quando?

Uma vez conversando com o Jaca, lenda do fotojornalismo aqui em Maringá, ele me disse que o repórter que não se emociona com alguns fatos não poderia ser humano. Nessa profissão de malucos as pessoas acabam criando uma casca para se protegerem do próprio material de trabalho. Relatar a dor do outro acaba fazendo parte da rotina. É triste, mas se torna banal, números, estatística. Fazia algum tempo que eu não me deparava com algo que “quebrasse” essa casca, que a contar pelo pouco tempo que tenho exercendo a profissão, já era bem grossinha.
Eis que me deparo com a história dos familiares de 10 pessoas que saíram de Maringá para um momento de confraternização, planejando retornar no dia seguinte e… Nunca mais voltaram. Dói ver como o ferimento ainda é tão vivo para essas pessoas. Dói pensar que fatalidades acontecem todos os dias e que logo são esquecidas. Apuramos a informação, relatamos o ocorrido, interpretamos fatos, situações e pronto. No outro dia partimos para outra. Mas aquelas histórias não saíram da minha cabeça. Quando a viúva Doralice contou que a lista de compras de Natal ainda estava no bolso do marido, foi difícil engolir o choro. Quando a mãe da Flávia, Hilda, apontou para a fotografia da filha de beca, concluindo uma importante etapa da vida, o nó na garganta apertou. Pais, maridos, filhas, seres humanos que tiveram a vida interrompida naquela fração de segundo. Por tão pouco.
Há quem se arraste anos a fio em tratamentos pesados para conter doenças que ainda desafiam a ciência. E há aquele que, mesmo com toda a vida adiante, param no tempo em poucos minutos. Um deslize para que a existência de tantos outros seja transformada para sempre. Marcas que o destino acaba deixando, promessas no ar, lembranças de um último adeus e a incógnita eterna: por quê?
Engraçado pensar que essas pessoas trabalhavam em uma operadora de telefonia chamada Vivo. Engraçado ver outdoors pelas estradas garantindo a segurança de quem paga um absurdo para transitar pelas rodovias do Estado. Tudo tão irônico, com um destino tão perverso. Que se repete dia após dia, derramando um sangue que não estanca. Com uma dor que não finda.