Rejeição

(Continuação da reportagem “Entre a rua, a calçada e o meio-fio”, Revista-Laboratório Eu Tenho Profissão, 2011)

Era sexta-feira, por volta das 10h, e uma família de Maringá teria uma visita imprevista, quiçá indesejada. O objetivo era “entregar” um morador de rua de 30 anos, que convive há oito com as drogas. A denúncia fora feita no dia anterior – quatro ligações exigindo que o serviço de abordagem “recolhesse” o cidadão, que tem dificuldade para andar.

A caminho da casa dos parentes, a dúvida: “Será que vão me querer?”, pensava alto. A campainha é acionada. “A senhora é tia do Jackson?”, questionou o educador Ricardo de Britto Silva, há um ano na abordagem. “Sou”, respondeu a dona. “Ele está aqui conosco, retiramos ele da frente de uma igreja”, prosseguiu. “Eu não posso ficar com ele. Eu tenho meu filho, minhas coisas para resolver! E ele não pode andar!”, exaltou-se a mulher.

Jackson é retirado da kombi e colocado na calçada ao lado do portão. “Meu filho, por onde você andou?”, indagou a tia. “Tava tudo certo para que um cara me ajudasse. Ele era evangélico. E eles [apontando para a equipe de abordagem] atrapalharam tudo”, acusou o morador de rua. Lauro Passos, o motorista, tocou o veículo a caminho do albergue, era preciso fazer o translado de quem estivesse lá para a rodoviária.

O primeiro passo para solucionar os casos é a identificação de algum parente próximo que possa acompanhar a pessoa. Mesmo que a abordagem conte com atendimento de assistente social e psicóloga, o apoio dos familiares é extremamente importante para que o envolvido saia de tais condições. Um dos principais fatores da exclusão de quem está em situação de rua é a rejeição de quem está mais próximo. “Se a família não quer assumir e a pessoa não quer se ajudar, será que vale a pena encontrar tantas oportunidades para eles?”, comenta Passos, indignado com o posicionamento de Jackson.