“A mídia não está tão forte para rock hoje em dia, mas estamos aí”

Banda paulista se apresenta em Maringá neste fim de semana

Banda paulista se apresenta em Maringá neste fim de semana

Quando Sublime cancelou as apresentações que fariam no Brasil, uma dúvida permaneceu entre os maringaenses empolgados para participar do Long Life Music Festival, que acontece neste sábado em Maringá: quem os substituiria? Não tardou para anunciarem que a banda Caixa Postal Mil e 22 retornaria à Maringá para mais um show – o último foi na Expoingá de 2007. Talvez você reconheça mais facilmente o nome pelo sonoro CPM 22. A estrada do grupo paulista atualmente formado por Badauí (vocal), Ricardo di Roberto, o Japinha (bateria), Luciano Garcia (guitarra) e Heitor Gomes (baixo) começou em meados de 1990 e permanece até hoje, agora com um novo CD, trabalhando com uma gravadora independente e a vontade de fazer a música acontecer nos palcos de todo o Brasil.

Fernando Estefano Badauí, 36, atende já pedindo para esperar por um minuto. Está acertando inúmeras atividades pendentes, entre elas, a vinda à Maringá – a banda sai de São Paulo na sexta-feira à noite para por os pés na terra vermelha logo no sábado de manhã. “Fomos avisados em cima da hora, mas não pensamos duas vezes para aceitar. Fizemos shows memoráveis em Maringá”, conta o vocalista. De cara nova, mas mantendo a identidade musical mesclando em várias faixas do novo CD o ska com punk rock, Badauí fala da atual fase do CPM 22, da banda que tem paralelamente às atividades, a Medellin, e da rotina que tem e espera com o novo disco, sétimo da carreira do grupo, o “Depois de um longo inverno”.

Vocês começaram em um universo mais underground e hoje vemos uma maturidade maior na banda. Musicalmente, o que diferencia o CPM de 1996 para esse CPM atual?

Experiência não é só musical, temos experiência de vida, conhecemos milhões de lugares, conhecemos muita gente. Fizemos mais de mil shows de lá pra cá, participamos de programas de TV, tem a questão de responsabilidade como banda, músico, artista, pessoa. Nossa carreira vem desde 2000 sem pausas. Passamos por milhares de coisas, sete discos, gravação de DVD, shows, concorremos a prêmios [este ano a banda foi indicada ao Grammy Latino na categoria ‘Melhor Álbum de Rock’ com o álbum ‘Depois de um longo inverno’]. A mídia não está tão forte para rock hoje em dia, mas estamos aí. Temos outra sonoridade. Eu estou passando por bons momentos agora.

Quais bons momentos?

Estamos montando um bar-restaurante em São Paulo, eu e mais dois amigos. Era um sonho já antigo, vai ser um pub.

Você acaba voltando para esse cenário underground com a sua outra banda, a Medellin. Como é conciliar esses “dois mundos”?

O CPM por mais que tenha ficado popular, a gente toca em lugares que sempre tocamos. Casas menores e todo esse universo mais alternativo. O rock em si é assim, se você for de uma banda verdadeira de rock, é assim. Nunca deixei de frequentar esses lugares, estou sempre presente, não me desliguei dessa cena. Tem uma diferença grande entre os contratantes das duas bandas. O empresário que entra em contato com CPM já sabe como trabalha, e a Medellin é o pessoal mais novo, a molecada. Se você cobra um real a mais eles já reclamam. Mas tem de aprender a valorizar, não é porque é alternativo que deve ser desmerecido. Pela minha experiência, eu estou ensinando a molecada a contratar. Não adianta só ter vontade de produzir shows, tem de saber o que se está fazendo.

Apesar do novo disco, o CPM mantém a mesma sonoridade, é fácil identificar quando ouvimos. Inovar nas composições e manter a identidade da banda é um desafio que vocês enfrentam?

Até que não, a gente sempre fez as músicas naturalmente de acordo com o que a gente estava ouvindo no momento. Comecei a ouvir punk rock com 11 anos, e com 19 anos eu sabia o que eu queria seguir, as sonoridades que eu queria buscar. A gente busca fazer algo que agrade o público que ouve. Achamos uma identidade em português que soasse como as bandas que a gente gosta. Acho que quando você visualiza o que quer tirar como som, você atinge mais o seu campo. Quando se trabalha naquilo que está buscando, se consegue atingir o objetivo. Demoramos um ano para fazer esse disco, escolhemos a dedo e chegamos ao que queríamos.

Na música “Quem sou eu” do novo CD você fala que sente falta da vida mais simples. Isso é autobiográfico, você sente mesmo?

Sinto falta de quando se é moleque, que não tem tanta preocupação. Leva um pé na bunda, sofre dois dias e tá se divertindo de novo. Minha vida é simples, apesar de ser uma correria do cão. Tenho uma boa assessoria, boas pessoas que trabalham comigo. Quando falo vida mais simples é isso: dar uns pegas, tomar cerveja, não ter responsabilidade.

O Kid Vinil escreveu que o álbum “Depois de um longe inverno” pode ser a melhor produção de vocês até hoje. Por quê?

A gravação é a melhor disparada. Em relação ao conteúdo, é o que eu mais gosto. Sonoridade foi o que a gente queria mostrar mesmo. Estamos muito felizes nesse momento, fazendo shows de verdade, uma conexão muito próxima com o nosso público. Nosso público não é miudista, não ouve o que é imposto goela abaixo.

Uma das faixas fala sobre a trajetória da banda, e até leva o mesmo nome. Como foi a composição dessa letra?

Essa música é uma das que eu mais gosto. A letra é minha. Escrevi muito rápido: foi simplesmente relembrar o que a gente viveu. Consegui expor em poucos minutos o que vivemos na banda de rock profissional, os invejosos, os lugares que a gente conheceu, os fãs, a nostalgia, a vontade de estar na estrada.

Você comentou muito essa relação dos fãs. Qual o papel dos fãs para a banda hoje?

Os fãs são nosso combustível maior. Muitas vezes uma gravadora internacional empurra goela abaixo o trabalho de uma banda. Quando lidamos com um trabalho profissional bem feito, é a receita para dar certo. Você só sobrevive se tiver um público que acompanhe, sem remuneração alguma a não ser o carinho que a gente distribui. Temos um fã clube muito ativo que a gente costuma chamar de exército. O fã clube oficial tem uma organização muito boa, forte, simplesmente por amor à banda. Isso é louvável, fazemos o possível para retribuir tudo isso.

O trabalho atual foi feito por uma gravadora independente. Por que esse rompimento com a Universal Music para apostar em algo mais independente?

Porque quando a gente já tinha algo conturbado na Universal. Tivemos algumas pendências jurídicas para sair da gravadora, isso atrasou nossos planos. Apareceram outras, duas ou três tinham propostas indecentes.

Já vi músico falando que romper com uma gravadora e partir para o lado independente possibilitou uma liberdade de criação maior, mostrando realmente o que a banda é. Isso aconteceu com vocês?

Não, graças a Deus não. A antiga gravadora tem a visão dela, comercial, cinco discos que a gente fez com eles e sempre foi com muita luta, discussão, discordância. O trabalho foi bem feito, mas foi desgastante, isso é normal. Algumas coisas a gente concordava, e quando passamos a discordar mais que concordar decidimos romper. Mesmo que a gente questione a sonoridade de alguns discos, o que é normal na vida de qualquer banda mundialmente falando, não teve nada que tirasse nossa liberdade de expressão, compor e fazer o som que a gente queria.

Depois desse tempo na estrada, as influências musicais continuam as mesmas, Rancid, Ramones, Pennywise. Como foi o desenvolvimento do novo CD?

Estávamos desgastados emocionalmente entre nós, não que a gente discutisse, mas porque estávamos direto na estrada. Separei da minha mulher, comecei a sair direto na noite de São Paulo, encher a cara, aquela coisa boêmia. Nesse disco a gente traz a revolta, as pessoas que convivemos. Eu adoro esse disco, mas é mais sisudo, cinza mesmo. Sempre quisemos misturar ska com punk rock. Começamos a conversar no final de 2010 e falamos: pô, vamos sair de férias e fazer um CD bem pra cima. A foto do disco reflete isso, esse clima de praia, Caribe, essa alegria. O disco é mais surf, feliz.

Essa revolta, falando sobre pessoas que conviveram com vocês reflete na letra de “Cavaleiro Metal”, que é do Luciano Garcia… Em quem vocês se inspiraram para fazer essa música?

Prefiro não dizer. Têm umas três músicas nesse CD que passa uma mensagem assim. É um recado para as pessoas que quiseram puxar o nosso tapete, não compensa dizer quem são.

O CPM entrou na programação bem perto do festival. Conhecer a cidade favoreceu na hora de aceitar vir pra cá mesmo em cima da hora?

A gente fez shows memoráveis aí [em 2003 e 2007]. Vamos chegar metendo o pé na porta. No bom sentido. Na hora que ligaram e falaram que era de Maringá a gente aceitou. Resolvemos ir.

“Eu nunca fui um baterista de heavy metal, sempre fui um baterista que tocava de tudo”

Essa entrevista foi originalmente publicada no portal odiario.com e no caderno D+ do jornal O Diário.

O primeiro álbum do Angra que tive contato, o “Angels Cry”, ouvi quando tinha meus 11 anos, por influência dos meus primos mais velhos. Cada um deles foi para um estilo musical que destoava do metal, por onde meus ouvidos permaneceram durante toda a minha adolescência e ainda esbarram, com menos frequência, hoje em dia. Conheci Shaman na novela global “O Beijo do Vampiro” (2002), com a clássica “Fairy Tale”. Foi o estalo que me fez acompanhar a carreira das bandas. E o tempo passa, a gente vai ouvindo outras coisas, e de repente temos gratas surpresas. Sim, essas músicas são eternas. Pode passar 20 anos, se tocar qualquer uma das canções que marcaram essa etapa, a letra vem à ponta da língua naturalmente.

Estava conversando com um amigo há pouco, dizendo que nunca imaginei que um dia pudesse simplesmente fazer o contato com alguém porque esse seria o meu trabalho. Revivi todos esses momentos, que parecem distantes agora. São dez anos desde que fui apresentada a esse som. Não sou expert em música, mal me arrisco a dizer algo com medo de falar besteira, haha. Mas sei reconhecer quando, para mim, algo soa como de qualidade e exala profissionalismo. E sei reconhecer o quanto o contato com o trabalho desses caras durante essa etapa da minha vida definiram, quem sabe, quem me tornei.

(e sim, a primeira música que ouvi foi “Carry On” – aliás, alguém lembra que existia uma comunidade no Orkut que se chamava “Toca Carry On!”? Pois é! #mesentindovelha)

Ricardo Confessori, 44, tem uma rotina atarefada. Para contatá-lo foram necessários três dias de insistência, até, após o telefone chamar quatro vezes, ouvir um “Alô?” do outro lado da linha. Foi dessa forma que o baterista das bandas Angra e Shaman, que vem a Maringá amanhã para o master class realizado pela Escola de Música Fábio Alencar, dispensou alguns bons minutos da quinta-feira para dar entrevista ao Diário. O Master Class que será ministrado em Maringá neste sábado começa às 15h, e o ingresso custa R$ 25.

O currículo de Confessori é amplo: já passou pela banda Korzus, deu aula para mais de 300 bateristas durante toda a vida, desenvolveu um método de ensino que explicará neste sábado durante a aula de duas horas que dará aqui, participou de uma edição do Rock in Rio, tocou por diversos países e agora concilia o tempo entre as duas bandas de renome internacional, as aulas, coordenação de projetos, produção de outras bandas – uma delas, o Salamanders, de Maringá – e a atenção à esposa e ao filho de 2 anos.

A trajetória com os dois grupos foi atribulada, mas o baterista parece viver agora um momento de tranquilidade. Ainda sem vocalista oficial para o Angra e algumas decisões a tomar, Confessori fala sobre a metodologia de ensino, projetos futuros e expectativas em relação aos dois grupos nos quais fez carreira.

Você começou a lidar com música ainda criança, tocando piano clássico. Como foi o primeiro contato com a bateria?

Foi aos 12 anos que eu deixei o piano, aquela coisa clássica, erudita que eu gostava, mas não gostava tanto. A gente estava sendo iniciado no rock, ouvindo Led Zeppelin, Deep Purple, e tomamos a iniciativa de fazer uma banda. Nessa de cada um pegar um instrumento e tal, a minha primeira intenção era ir para a guitarra. Ficou para mim entre a bateria e o baixo, eu falei que ia ficar com a batera. Pensava que o baixo ninguém ouvia. Hoje eu arranho alguma coisa na guitarra.

Você dá aula faz quanto tempo? Como é conciliar os trabalhos com as bandas, as aulas e ainda dar atenção pro teu filho?

Já dei muita aula de bateria na minha vida. Tinha 30, 20 alunos. Já passaram na minha mão mais de 300 bateristas, perdi a conta. De um tempo pra cá eu reduzi muito, meu foco agora é o método, expandir como coordenador de pessoas que darão aula. As pessoas que eu dou aula no momento são pessoas que são bem profissionais, é um aprimoramento mais específico, ou pessoas que estou treinando para usar o meu método. É o caso do Matheus Galvão [professor na Escola Fábio Alencar]. Tenho focado mais na produção musical, desenvolvi um curso com um amigo meu. A gente dá aula no EM&T em Campinas, ensino as pessoas a produzir. Tenho mais de 40 alunos. Estou produzindo duas bandas no estúdio, mixando. A gente vai intercalando, na medida da necessidade. Estou me formando em Marketing esse ano também. Ano que vem quero começar a pós-graduação, casei, tenho um filhinho de dois anos. A gente vai fazendo as coisas na medida que isso vai te motivando. Nada como pressão para te dar inspiração.

O seu método de estudo tinha quatro livros, e o quinto livro foi até uma sugestão do Matheus Galvão, professor na Escola de Música Fábio Alencar. Qual foi o processo para organizar isso?

Eu tinha um livro que era de uma maneira meio rude, rápida, que usei para dar todas essas aulas que eu vinha dando durante toda a minha vida. Certo dia o Matheus veio me perguntar de uma franquia, que tinha a necessidade de aplicar isso na escola dele porque os alunos queriam uma meta. Não queriam fazer um curso que não tinha prazo para terminar. Ele me perguntou se eu nunca quis fazer algo do tipo, e a partir disso formatei essa ideia para o que eu vinha fazendo. Fiz mais um livro de níveis, com certificados e provas. Nesse processo eu reformulei muita coisa que eu dava em aula. Muitas apostilas foram revistas. Fiz pensando no cara que vai começar do zero na bateria, escrevi um capítulo especial para essa inicialização.

No ano passado você veio a Maringá dar aulas individuais e um workshop. Qual será a abordagem do Master Class?

O workshop tem mais cara de show, tem o palco, o som forte, a luz é mais aconchegante. O Master Class é dentro de uma sala de aula, não tem frescura de luz e palco, você toca lá como se estivesse dando aula. Apresenta o que acha legal, discute sobre aquilo, é outra abertura.

Falando sobre o teu trabalho frente às bandas: o Shaman foi totalmente reformatado, e agora conta com um novo clipe, que vocês gravaram em Nova York e São Paulo. Como está sendo essa nova fase?

Durando mais que a antiga fase. Esses novos integrantes estão há mais tempo que os velhos. No momento estamos fazendo nosso terceiro disco. Chegamos a exibir esse clipe na ExpoMusic em São Paulo. Íamos divulgar na internet, mas resolvemos esperar para o lançamento do disco para lançar esse material. Já temos dois DVDs ao vivo com essa formação e dois DVDs com a antiga.

Para esse clipe vocês utilizaram uma megaestrutura. Tiveram várias participações especiais, o Russell Allen, vocalista do Symphony X… Isso é definitivamente a marca de uma grande mudança.

Vem marcar uma nova fase da banda. Resolvemos fazer um lance legal, gravar as partes do Russell, do Thiago [Bianchi, vocalista do Shaman]. Tivemos participação também do Mike Portnoy, do Dream Theater. Teve outra fase de gravação em São Paulo, tivemos apoio da faculdade de Salto, e foi muito legal. Estamos sempre unindo nossas atividades, nossos eventos com essa questão acadêmica. Até pelo estilo de música que tocamos, não é nada comercial, nossa preocupação é com o estudo, com esse lado acadêmico, que é sempre forte. Filmamos nos galpões da faculdade. Antes tivemos um encontro com os alunos, horas antes de começar a filmagem e eles acompanharam. Estamos seguindo nosso caminho para fazer as coisas da melhor forma.

Li que a previsão é lançar esse novo CD no começo do ano que vem. O que podemos esperar desse trabalho?

Fazemos heavy metal, mas o que a gente faz é música. Eu nunca fui um baterista de heavy metal, sempre fui um baterista que tocava de tudo. Posso fazer o que eu quiser, tocar o que eu quiser. Sempre quis saber de tudo, estar pronto para tudo. Esse disco a gente quer mostrar um pouco disso, cair um pouco para o lado acadêmico, que as pessoas usem nossa música no futuro para material de estudo, não só para ouvir, mas para análise. Nosso foco é surpreender como músicos, não mais como banda.

É uma produção diferente do que o Shaman já fez durante essa trajetória. Pensa que os fãs vão aceitar bem essa mudança?

Não temos mais preocupação nenhuma quanto a isso, se vão estranhar ou não. Fazemos o som que a gente acredita, para as pessoas que nos apoiam. Não sei dizer quem é mais fã de quem. As pessoas hoje em dia são fãs de um fim de semana. Não sou sociólogo para explicar, mas é um fenômeno com essa grande informação que temos aí. A gente vive com isso e tem de aprender a lidar, não podemos sair xingando as pessoas e falar que não apoiam. Hoje fazemos música para quem aprecia. Antigamente fazíamos música de um jeito, pensávamos na rádio que ia tocar a música na programação, na MTV que ia passar o clipe, no Japão que gosta de música rápida… Hoje não fazemos mais músicas para mercados. Fazemos músicas para nossa experiência, nossos desafios pessoais.

O Angra foi convidado para tocar, em janeiro próximo, em um cruzeiro marítimo a partir de Miami, o 70000 Tons of Metal. Quais são as expectativas para essa viagem?

Primeiro que eu nunca fiz um cruzeiro na minha vida, não sei como vai ser essa experiência. São mais de 40 bandas que vão ficar cinco dias em um cruzeiro, bandas que… Uou! Helloween, dentre outros. Pelas fotos que eu vi no site, vai ser animal. Como o Angra está sem vocalista, vai ter um vocal convidado.

Aliás, sobre essa questão do vocalista: como foi tocar no Rock in Rio no ano passado com o Angra, e pouco depois o Edu Falaschi sair da banda?

Não se fez trabalho nenhum após disso. Recentemente tivemos esse convite do cruzeiro, e em função disso a gente passou a se falar, fazer uma promoção para escolher um vocalista novo. Como é o terceiro vocalista da banda, até desanima um pouco tomar essa decisão. O peso da decisão é grande: pode ser um acerto ou na maioria das vezes, como vemos em grandes bandas, não dar certo. Ainda não definimos quem vai cantar.

Há a possibilidade desse vocalista convidado permanecer na banda como fixo?

Não sei, depende. Mas pode ser que sim.

Conversando com o Matheus Galvão, ele comentou que ainda há investimento nesse estilo musical por ser uma produção eterna, prova disso é a credibilidade do Angra em ser convidado para um cruzeiro desse porte mesmo sem vocalista. Como você avalia isso no Brasil?

O Angra meio que foi uma lenda no estilo dele fora do Brasil, até por ser do Brasil é uma coisa difícil de acontecer. Foi uma das maiores bandas da época por um período. Vivemos em um país que tem muito músico bom, mas são pagos para fazer músicas descartáveis na televisão. Talvez lançarem seus discos solos para um pequeno público próximo dele simplesmente para satisfazer uma ideia, um trabalho dele. Mas não tem como usar isso como trabalho principal dele, que é remunerado. A gente tenta fazer isso a vida inteira. Tentamos fazer isso, viver da música elaborada, não comercial. Infelizmente no Brasil a gente vive uma ditadura da falta de cultura. Servi o exército no finalzinho da ditadura, em 86 e a gente vê que naquela época militar, não estou falando da opressão, violência, estou falando da mídia, informação, a gente vê que existe uma censura tão forte quanto da época da ditadura, só que no sentido de que nada pode ser muito elaborado e ter nível alto. Tem de ser de nível medíocre, mediano. Isso pra mim é uma ditadura. Não tem outro termo. Meu discurso é: eu faço meu trabalho, faz tanto tempo que nem sei fazer outra coisa, vou continuar fazendo até morrer. Quem sabe um dia mude as coisas.